[“Pai, a Minha Sombra és Tu

a cadeira está vazia, um corpo ausente  / não aquece a madeira que lhe dá forma //  e não ouço o recado que me quiseste dar / nem a tua voz forte que grita meninos / na hora de acordar / ouço o teu abraço, no corredor em gaia / e os olhos molhados pela inusitada despedida // o sol foge / mas o crepúsculo desenha a sombra que / tenho colada aos pés / ou o espelho, coberto com a tua face // pai, digo-te / a minha sombra és tu “ 

Jorge Reis-Sá, in "A Palavra no Cimo das Águas"] 

“A Sombra da Ausência” é uma forma de dialogar com a ausência, sendo que esta é tão palpável como a presença. Este projecto é bastante autobiográfico, pessoal, íntimo, porém replicável a todas as pessoas. Todos temos ausências, de uma forma ou de outra, na nossa vida. Ausências que são de tal forma palpáveis que as suas sombras são tão determinantes como as suas presenças, (precisamente como o estar/viver/suportar/participar/...) De um lugar de procura em mim do que é a fotografia, que papel ocupa ela na minha vida, surge-me em reflexo na minha análise uma comunicação com uma parte da minha vida que se encontrou ausente, toda uma memória que “não é”. Daqui surgiu a ideia para este Projecto. Percebendo que apenas o que “é”/”está” tem sombra (supostamente), consigo pressentir um jogo nesta alusão à ausência e sua sombra. O que “não é”/”não está” permite também ter sombra. E o que é a sombra? Existem coisas que causam impacto por não estarem, ou, não serem. A sombra da sua ausência é tão importante quanto a da presença de outras. O que procuro no espelho, senão um conjunto de sombras que me permita perceber-me? O que procuro no que construí de mim, senão um novelo de jogos entre o que me “vestiu” enquanto cresci e a pele que é “vestida”? A sombra da ausência é tudo o que marca por não estar, mas que é tão vivido como o estar