26.10.2021
Se pudesse ensinava-te a ler-me
deixava ténues regras, destruindo a tua liberdade
a meu belo prazer, pelo controlo.
Controlaria, como marionete, os fios de condução do teu pensamento
O que farias com o que lerias já seria algo teu,
só teu. Que privilégio, esse - que costura meticulosa

Não vou escrever para me leres,
nem vou ensinar-te a leres-me na realidade,
mas,...Seria capitã desse barco
num mar de ignorância.
a pobre vela gasta
leva-me para perto do fim, com dor, superficialmente
sem riscos ou desconfiança
com alguma vulgaridade
sem travões.
Presente.
Encontro-te presente frente a uma porta encostada,
olhando o que não vês, escutando o silêncio
em antecipação
em medo
em beijo que se prende no pensamento antes de o ser.
Não encontras os passos,
a voz,
o sentido que se entrega ao vazio da possibilidade.
Indício,
és apenas o indício do que poderia ser
presente escondido atrás de uma porta
de olhos postos no lado avesso da pele.
27.10.2021

a forma da luz dedilhar a sombra
Há um som ténue, quase escondido, 
no lamento das cordas da tua guitarra
escondes a incrível face obscura que temes
a que achas que deixa de existir a cada som
que surge entre as portas que fechas.
A luz entra e brinca com a ideia  de ser,
mas, não é - finge - brincalhona
entre os dedos sem pele que existem 
dentro dos teus olhos.

Não existem lugares que alberguem a solidão
ela ocupa demasiado espaço
é demasiado desejada
mais que braços e pernas em encruzilhadas expostos
é essa sim a rainha desejada 
o som do meu silêncio.
- o som do meu silêncio
- o sabor do meu silêncio
- o toque do meu silêncio
- a imagem do meu silêncio
- o cheiro do meu silêncio
30.10.2021

Escrevo de um lugar sombrio,
esquecido,
perdido num labirinto qualquer.
Não há, na realidade, dor pesar,
mas há sentir
sentido de um profundo e obscuro esquecimento
não há palavras que demovam os suspiros
de cansaço,
de exaustão.
Quero perder este lugar em mim
e não o encontrar mais,
sair, fechar a porta 
e nunca mais voltar.
Repito
Pequena almofada que teima em esconder conforto
não dorme, apenas fica imóvel
fingindo empatia pela nuca nua,
pela face enrugada,
pelos olhos fechados,
pela saliva nauseabunda que transborda da eternidade.
Tantas vezes com ouvidos prontamente encostados
como ouvindo o maior dos segredos
(se calhar é o maior segredo)
fingir que se está ausente do mundo
quando apenas (com sorte) se dorme - se dorme
Chove.
isso parece ser suficiente.